"Nada como a dureza da actual crise para testarmos a aplicabilidade, no concreto, de discursos políticos que, à força de serem feitos no vazio, perdem por vezes a necessária aderência à realidade. Seguem-se alguns exemplos. Começo pelo caso da Qimonda, reconhecidamente uma das melhores e mais eficazes unidades da multinacional alemã e agora com os seus 1700 trabalhadores em risco de desemprego em Vila do Conde. Durante a semana, deputados portugueses de todos os partidos políticos (grupo em que me incluí) juntaram-se aos seus colegas alemães num apelo comum aos respectivos governos para que, em conjunto, analisem as condições de viabilidade da empresa e lhe facilitem o acesso ao crédito necessário à reconversão viabilizadora que estava em curso. Devendo sublinhar-se que, enquanto o Governo português se mobilizou imediatamente no acompanhamento do processo, já o mesmo não aconteceu na Alemanha.
Este exemplo ilustra cabalmente uma questão que está na ordem do dia: a ausência, a nível europeu, de uma articulação forte entre as políticas económicas dos distintos estados-membros; se quiséssemos ilustrações ainda mais marcantes, bastaria apreciar a disparidade de instrumentos que os distintos países lançaram para apoiar os seus bancos - que depois vão concorrer entre si no mercado interno comum -, a sua indústria automóvel - com riscos de concorrência, não só entre empresas mas também entre os sistemas de apoio (Alemanha, França, Itália, Espanha e, até mesmo, Portugal) - ou as suas PME; note-se que também o sector têxtil foi objecto de um debate, em que participei, no Parlamento Europeu.
Assim se vai tornando clara a evidência de que, em tempos de crise, não só "cada país olha por si" e define o seu próprio plano de "ataque" à mesma para satisfazer os seus cidadãos - veja-se, neste sentido, a importante entrevista dada por Sarkozy à televisão oficial francesa na passada quinta-feira - como também de que só alguns países têm condições (políticas, demográficas e financeiras) para viabilizar programas de relançamento com impacto; em bom rigor, deveria caber ao nível europeu comum a compensação destas diferenças, em nome da tão proclamada "coesão" - mas que se pode esperar de um orçamento comum que representa pouco mais do que 1% da riqueza colectiva (o orçamento federal dos EUA representa 30%) e de uma Comissão Europeia que se tem de vergar ao somatório dos interesses dos principais países contribuintes, sempre ávidos de recuperar, pela via das "despesas europeias", as respectivas contribuições orçamentais para aquele pequeníssimo bolo comum?
É neste contexto que, quando os países economicamente mais débeis procuram financiamento para os respectivos programas de relançamento, surgem os implacáveis mercados financeiros a cobrar-lhes, apesar de membros da União Europeia, juros incomportavelmente mais elevados do que os praticados às economias mais robustas. Neste cenário, com o desemprego a aumentar em toda a Europa como uma "bola de neve", manifestações contra os trabalhadores imigrantes italianos e portugueses - com o slogan "empregos ingleses para cidadãos ingleses" - são um perigosíssimo rastilho que tem de ser rapidamente apagado, face ao risco de alastramento de um fogo sem fim.
É também neste contexto que, numa região como a do Norte, se percebe a necessidade de consolidar, nacional e internacionalmente, o "músculo" das diversas dinâmicas que a compõem. Basta recordar, regressando à Qimonda, que são exportações como as suas que alimentam o aeroporto Sá Carneiro, que é a ida e vinda de colaboradores e técnicos como os seus que alimenta os hotéis ou os restaurantes locais, que são os salários pagos a trabalhadores como os seus que alimentam o comércio de proximidade e pagam as escolas dos filhos. É por isso que, hoje como nunca, importará menos "pensar local e agir global" do que o seu contrário"…
Artigo de opinião de Elisa Ferreira, publicado no «Jornal de Notícias» do dia 8 de Fevereiro de 2009
Este exemplo ilustra cabalmente uma questão que está na ordem do dia: a ausência, a nível europeu, de uma articulação forte entre as políticas económicas dos distintos estados-membros; se quiséssemos ilustrações ainda mais marcantes, bastaria apreciar a disparidade de instrumentos que os distintos países lançaram para apoiar os seus bancos - que depois vão concorrer entre si no mercado interno comum -, a sua indústria automóvel - com riscos de concorrência, não só entre empresas mas também entre os sistemas de apoio (Alemanha, França, Itália, Espanha e, até mesmo, Portugal) - ou as suas PME; note-se que também o sector têxtil foi objecto de um debate, em que participei, no Parlamento Europeu.
Assim se vai tornando clara a evidência de que, em tempos de crise, não só "cada país olha por si" e define o seu próprio plano de "ataque" à mesma para satisfazer os seus cidadãos - veja-se, neste sentido, a importante entrevista dada por Sarkozy à televisão oficial francesa na passada quinta-feira - como também de que só alguns países têm condições (políticas, demográficas e financeiras) para viabilizar programas de relançamento com impacto; em bom rigor, deveria caber ao nível europeu comum a compensação destas diferenças, em nome da tão proclamada "coesão" - mas que se pode esperar de um orçamento comum que representa pouco mais do que 1% da riqueza colectiva (o orçamento federal dos EUA representa 30%) e de uma Comissão Europeia que se tem de vergar ao somatório dos interesses dos principais países contribuintes, sempre ávidos de recuperar, pela via das "despesas europeias", as respectivas contribuições orçamentais para aquele pequeníssimo bolo comum?
É neste contexto que, quando os países economicamente mais débeis procuram financiamento para os respectivos programas de relançamento, surgem os implacáveis mercados financeiros a cobrar-lhes, apesar de membros da União Europeia, juros incomportavelmente mais elevados do que os praticados às economias mais robustas. Neste cenário, com o desemprego a aumentar em toda a Europa como uma "bola de neve", manifestações contra os trabalhadores imigrantes italianos e portugueses - com o slogan "empregos ingleses para cidadãos ingleses" - são um perigosíssimo rastilho que tem de ser rapidamente apagado, face ao risco de alastramento de um fogo sem fim.
É também neste contexto que, numa região como a do Norte, se percebe a necessidade de consolidar, nacional e internacionalmente, o "músculo" das diversas dinâmicas que a compõem. Basta recordar, regressando à Qimonda, que são exportações como as suas que alimentam o aeroporto Sá Carneiro, que é a ida e vinda de colaboradores e técnicos como os seus que alimenta os hotéis ou os restaurantes locais, que são os salários pagos a trabalhadores como os seus que alimentam o comércio de proximidade e pagam as escolas dos filhos. É por isso que, hoje como nunca, importará menos "pensar local e agir global" do que o seu contrário"…
Artigo de opinião de Elisa Ferreira, publicado no «Jornal de Notícias» do dia 8 de Fevereiro de 2009
Atenta não apenas à realidade da cidade do Porto, Elisa Ferreira envolveu-se também no combate pela sobrevivência da Qimonda, em Vila do Conde. Considero que esta forma de estar na política, com pensamento proactivo e espírito altruísta é meio caminho andado para que a eurodeputada seja eleita pelos portuenses para ser sua presidente de câmara. É que ela não olha apenas para o seu umbigo, nem luta apenas pelos direitos daqueles cujos votos lhe interessaria cativar. Elisa Ferreira tem o hábito de estender a mão aos que dela necessitam, erguendo a voz em defesa dos direitos dos que de outra forma cairiam no esquecimento dos jornais e das televisões. Elisa Ferreira é a voz de que o Porto e os portuenses precisam para voltar a dar cartas no cenário político nacional.
ResponderEliminarJorge Freitas Gomes